China amplia restrições a terras raras e mira setor de chips e defesa: o início de uma nova guerra tecnológica global
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10/10/20253 min read


Um movimento calculado antes da cúpula Trump–Xi
A China anunciou nesta quinta-feira (9) uma ampliação drástica das restrições de exportação de terras raras, incluindo cinco novos elementos e dezenas de componentes de refino, com foco em usuários do setor militar e de semicondutores.
A decisão ocorre poucas semanas antes da reunião entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, marcada para o fim de outubro, na Coreia do Sul — um movimento que especialistas enxergam como estratégia geopolítica para aumentar o poder de barganha de Pequim.
O anúncio surpreendeu os mercados e reacendeu temores de fragmentação estrutural nas cadeias de suprimento globais, especialmente nas indústrias de chips, defesa e energia verde.
O que são terras raras — e por que importam tanto
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a produção de:
Chips avançados e processadores de IA;
Motores elétricos e baterias de veículos;
Equipamentos militares, como radares e mísseis guiados;
E tecnologias verdes, como turbinas eólicas.
A China controla mais de 90% da produção mundial de terras raras processadas e é o principal fornecedor global de ímãs de neodímio e disprósio, usados em quase todos os motores elétricos de alta performance.
Com as novas medidas, exportadores estrangeiros precisarão de licenças chinesas se utilizarem equipamentos ou matérias-primas oriundos da China, mesmo que a transação não envolva empresas chinesas diretamente — um golpe direto na cadeia global de semicondutores.
As novas restrições em detalhe
O Ministério do Comércio da China acrescentou os elementos hólmio, érbio, túlio, európio e itérbio à lista de exportações controladas.
Além disso:
Usuários militares estrangeiros não terão licenças;
Pedidos para chips de 14 nanômetros ou mais avançados serão analisados caso a caso;
As regras também se aplicam à pesquisa em IA e chips de uso militar;
E entram em vigor em duas fases:
8 de novembro: restrições de elementos e refino;
1º de dezembro: licenciamento para empresas estrangeiras.
O recado é claro: Pequim quer controle absoluto sobre tecnologias críticas — e está replicando a estratégia de “export control” dos EUA, usada contra a própria China nos últimos anos.
Geopolítica em ebulição: a bifurcação das cadeias globais
Segundo Neha Mukherjee, analista da Benchmark Mineral Intelligence, o mundo entra agora em uma “bifurcação estrutural”:
“A China está localizando sua cadeia de valor, enquanto EUA e aliados aceleram a criação de suas próprias cadeias independentes.”
Esse desacoplamento tecnológico — o chamado Tech Decoupling — deve redefinir a geopolítica industrial da próxima década, com efeitos diretos sobre:
O mercado de semicondutores (TSMC, Samsung, SK Hynix);
A indústria militar e aeroespacial;
E o setor de energia limpa e carros elétricos.
Reação dos mercados
As bolsas reagiram imediatamente:
Na China: ações de terras raras subiram forte — China Northern Rare Earth (+10%), Shenghe Resources (+9,4%).
Nos EUA: mineradoras de terras raras dispararam — Critical Metals (+25%), USA Rare Earth (+15%), Energy Fuels (+9%), MP Materials (+2,4%).
A reação mostra que o mercado já precifica uma corrida global por autossuficiência mineral, com investimentos massivos em mineração e processamento fora da China.
Impactos estratégicos
Chips e IA: as restrições devem afetar diretamente fabricantes de semicondutores na Coreia do Sul (Samsung, SK Hynix) e em Taiwan (TSMC).
Defesa: o veto a usuários militares pode restringir o acesso do Ocidente a componentes críticos de sensores, radares e propulsão.
Energia verde: a disputa eleva o custo e o prazo de projetos de carros elétricos e turbinas eólicas, aumentando a pressão inflacionária verde.
Comércio internacional: acelera a regionalização das cadeias produtivas, enfraquecendo o modelo globalizado de produção.
Análise de especialista
“A política de terras raras da China virou instrumento de poder geoeconômico. Pequim está dizendo: se vocês controlam os chips, nós controlamos os minerais que os fazem existir.”
— Tim Zhang, Edge Research (Cingapura)
Em resumo, a China está convertendo domínio industrial em alavanca diplomática — e isso muda completamente o jogo para investidores em tecnologia, energia e defesa.
Oportunidades e riscos para investidores
Para quem observa o mercado global:
Oportunidades:
Ações e ETFs ligados à mineração de terras raras fora da China (como EUA, Canadá e Austrália).
Empresas de reciclagem e refino sustentável.
Startups de materiais críticos e supercondutores.
Riscos:
Pressão sobre margens de fabricantes de chips.
Possíveis represálias comerciais entre EUA e China.
Volatilidade elevada nos setores de tecnologia e defesa.
Conclusão
As novas restrições chinesas marcam um divisor de águas na economia global.
Pequim deixa claro que pretende controlar a base mineral da era digital, enquanto o Ocidente busca reconstruir sua autonomia tecnológica.
Para o investidor, o recado é simples: a nova guerra não é apenas por dados — é por minerais.
